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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ALI


Ali

Vou ali. É ali, na esquina queimar mais um sem voz que grita a toa.
Vou ali. É, vou ali, na penumbra, buscar corpos ocos de tanto lhes dizerem que são nada – luz fraca que rasga a madrugada e bem nunca me faz.

Sim, vou ali. Ali. Na esquina, onde homens se devoram por um prato de passarinha, por um tubo de cachaça, se digladiam – palavra linda que descreve de forma camuflada a desgraça.

Vou ali, é ali, naquela esquina onde Bil mijou ontem e nenhum cachorro mais quer mijar.

Vou ali, é, ali, na esquina onde putas ganham a vida – arriscando a vida –, labutando para tomar um pedaço de pão das mãos do diabo que sempre sorri antes de machucar.

É, vou ali naquela casa, que fica naquela esquina, perto daquele poste, que dá pra quela outra esquina, dentro daquele vazio que a todos consola.

É. Vou. Já não posso mais ficar. Vou me lançar na selva de pedra sem Deus.

É. Vou. Ali naquela esquina onde tudo é permitido. Mas tem que ser por baixo das saias das virgens, sem que ninguém veja, do contrário é errado.

É. Vou ali naquela esquina, onde me perdi em uma tarde de um dia sem data.

É. Vou ali. Na esquina dentro de mim.

Marcos Martins.


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