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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Prosa, pesar e existir




Prosa, pesar e existir


Quero sair de meu corpo, esse templo ruído que se tornou. Há grades, não há chaves, apenas trancas e contas e mais contas. Apenas tédio.

Minhas trancas não se abrem para me deixar sair, nem para banhar-me ou tomar um pouco de sol. Fico sujo. Impuro. Burocrático. Foi para isso que fomos modelados? Para sempre sentirmos sujeira em nosso existir? Esse foi o trato entre o criador e o diabo para que no inferno existisse um porteiro, trabalhando todos os dias do ano, até em feriados santos.

Somos obrigados a sentir uma batalha dentro de nossa essência que nunca cessa. Olhar, sem nunca enxergar o horizonte. 

Muitos acham que o inferno é um lugar de punição e sofrimento eterno, mas no inferno, existe apenas uma fila, uma interminável fila e ao chegar ao início dela, nada acontece, se pega outra senha, para outra fila e tudo fica como exatamente está. Os anjos decaídos riem e se misturam, dando lições de moral para tudo se tornar ainda mais pesaroso e todos permanecerem com seus ombros caídos, esperando mais uma vez sua vez na fila chegar. 

Algumas pessoas dizem que o inferno é cheio de livros e mais livros de autoajuda, de autores diferentes, e todos têm que ser lidos em vos alta, tudo ao mesmo tempo. Tem quem diga que o inferno é aqui mesmo e fica em seus lares, outros, que fica numa rua sem saída, numa casa sem banheiros e vez por outra, anjos vem com rolos de papel higiênico para distribuir e se simpatizam com você, te levam para os bosques do Éden e te deixam por lá, se escondendo das serpentes, que hoje são muitas e que sabem como ninguém plantar árvores e nos despir de nossas inquietações. 

Prosear é tão fácil, existir um mistério que não se encontram as respostas em bulas de remédios, nem em anúncios de jornais. Prosear é preciso, é um mal necessário para suportar o existir.


Marcos Martins.

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