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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Apóstata


Apóstata


Dê-me motivos para sorrir para você;
Dê-me motivos para falar com você;
Dê-me motivos para sangra por você - já que ninguém entende o que fiz;
Dê-me motivos para perdoar-te;

Dê-me motivos para não querer descer dessa cruz;
Dê-me motivos para querer sangrar por teus filhos;
Dê-me motivos para ligar para teu choro angustiado em noites friamente solitárias;
Dê-me apenas um motivo que faça valer a pena respeitar seu egoísmo.

Meus sonhos foram tirados de mim. Minha vida foi dada em holocaustos a canibais famintos que palitaram os dentes após a refeição – como se nada fosse mais importante que saciar a fome da carne.

Pai! Porque sangrei por todos eles?
Pai! Porque não matamos todos eles?

Diga-me quais as verdadeiras razões para tanta reza individual, que talvez te olhe nos olhos sem sentir vergonha de ti.

Sinto cheiro de dor, sinto cheiro de ódio, sinto o cheiro do corpo do deus morto no quarto ao lado (apenas mais um troféu que foi conquistado e esquecido). 

Cansei de acreditar; de pastorear ovelhas que teimam em se perder. Cansei.

Nada do que você diga vai me convencer a aceitar as dores do mundo e as mortes que julgou serem feitas para mim.

Quis apenas subir na cruz para poder ver do alto, para poder ver o que tinha depois do firmamento e agora o que me faz continuar aqui perdeu o sentido.

Seu amor mentiroso não me convence mais.



Marcos Martins.

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