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domingo, 20 de abril de 2014

Trecho de meu livro "Lugar Nenhum - Paraíso Distópico"



Lá estávamos nós três, bem enfrente a casa do homem que poderia por um fim a minha angústia, que poderia por fim aquela incógnita que me sufocava os sentidos, que me causava pavor.

– Porque você não nos disse que ele morava perto de tua casa – questionei Gabriel.

– Se eu tivesse dito você viria aqui sozinho e pelo o pouco que conheço o senhor Gildo, ele iria te escorraçar daqui feito um cão sarnento – continuou olhando para mim de forma serena – E você nunca me contou essas cosias ai que você sentia nem esse lance das luzes, nem nada... E o que ele tem a dizer é difícil de acreditar, por mais filmes de ficção cientifica que você tenha assistido, por isso nunca contei a vocês, para não ser tachado de ridículo.

Olho para Gabriel ainda mais intrigado – o que teria a ver minha situação com ficção cientifica? – Se tivesse que definir minha vida, definiria como um filme de terror como Poltergeists ou da forma como estávamos ali, parados enfrente a casa do senhor Gildo, com aquele poste do nosso lado esquerdo a nos iluminar, deixo tudo o que a luz não consegue tocar em uma penumbra melancolicamente perturbadora, diria que tudo estava conspirando para minha situação se assemelhar a um filme sobre exorcismo. 

Abrimos o portão, que rangeu como um lobo uivando para a lua, e entramos na casa do homem – pelo menos na primeira etapa que era o quintal ainda estávamos vivos, apesar do coração aflito. O quintal era bem peculiar – para não dizer estranho –, pois estava cheio de placas de metais espalhadas por todo o lugar. Uma grade pintada com uma tinta que já fora azul algum dia, mas que agora estava descascada nos impedia de chegarmos até a porta da frente, só que Gabriel já conhecia o homem e como chama-lo; esticou o braço e foi tateando pela parede até alcançar uma campainha que, assim que a sentiu entre os dedos, de pronto a tocou.

– Será que ele está em casa? – perguntou Ainá com as mãos juntas ao peito.
– Está sim, não ia me sacanear, ele mesmo estipulou esse horário da noite. Deve estar vindo nos atender logo.

Gabriel toca mais uma vez a campainha, mas notei que nós não conseguíamos ouvir som algum, minha esperança era que o senhor Gildo estivesse a ouvindo de dentro da casa, que ela estivesse sido instalada em algum cômodo que ele passasse mais tempo.

– Acho melhor irmos – disse Ainá visivelmente perturbar com a atmosfera do lugar.

– O filho da mãe me deu um bolo – disse Gabriel com um pouco de raiva em seu olhar.

– É melhor irmos – falei desconsolado, baixando os olhos.

Fomos dando meia volta, quando o som de trancas se abrindo irromperam o silêncio desconfortante que pairava no ar. A porta se abre e em nossa frente uma figura de estatura mediana, magra, de uma palidez que só vemos em doentes febris se apresenta; seu rosto, de formato hexagonal dava um tom exótico a sua aparência, que se acentuava devido a seus olhos tristes e profundos e um semblante de desesperança crescente que lhe acometia. O senhor Gildo estava no auge dos seus setenta e quadro anos, mas aparentava ter bem mais. O tempo parecia ter-lhe castigado mais que o normal. 

(...)
Marcos Martins.

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