O ar daquela casa me sufocava, não conseguia respirar, não conseguia raciocinar lá dentro, todo o ambiente me oprimia, me encarcerava.
– Lázaro! – grita Ainá tentando me fazer parar.
Não conseguia ouvi-la bem, mas pelo tom de sua voz sabia que ela queria que eu a esperasse, no entanto só me vinha à vontade de sair daquela casa, de sair de perto daquele homem bêbado que me fizera toda aquela confissão. À medida que tentava alcançar a porta ia ficando sem forças, mais e mais sufocado, já não conseguia enxergar bem, à vista estava turva e tudo começara a girar, lembro que cheguei a tocar com um dos dedos na maçaneta da porta, depois, escuridão.
Não sei quanto tempo fiquei desacordado, mas foi tempo suficiente para que o senhor Gildo ficasse mais sóbrio, ele me olhou de forma dócil, ergueu uma caneca com café quente e depois mudou o semblante, ficando austero.
– Você está bem garoto? – perguntou-me, acenei com a cabeça dando a entender que sim.
Ainá se aproximou de mim e me abraçou. Estávamos no quarto do Senhor Gildo, era um quarto simples, tinha uma cama de casal, que eu estava deitando, um criado mudo, um guarda-roupa sem portas, que deixava as poucas roupas que tinha a mostra, e muitas lãs de aço espalhadas pelo chão.
– Onde estão os outros? – perguntei a Ainiá ainda convalescente.
– Espalhando mais lãs de aço e chapas de metais por toda a casa – respondeu o senhor Gildo se antecipando.
Podia sentir em sua voz que o esforço de Gabriel e dos outros era em vão, só não entendia o porquê dele deixa-los desprender toda aquela energia.
– Precisamos conversar filho – falou o homem pondo a caneta em cima do criado mudo.
– Sou todo ouvidos.
– Não na frente dela.
– O senhor me fala tudo agora, eu conto tudo a ela logo em seguida, então não percamos tempo.
– Tudo bem, mas acho que após ela me ouvir, não terá uma noite de sono tranquilo. – falou num tom ameaçador e ao mesmo tempo preocupado – Isso tudo é bem maior do que você pensa – continuou, – quando eles começam esse processo, só param quando tem aquilo o que querem.
– Com o senhor foi assim? – pergunto.
A pergunta abala o velho homem que segura à mão esquerda, que começa a dar espasmos involuntários.
(...)
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