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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Poesia - Macular


Macular


Dê-me as chaves da porta dos fundos.
Não, não quero ouvir seus conselhos valiosos.
Não, não tenho mais para que rezar – estou em paz com o cosmo -.

Quero ter tempo para respirar, essa gravata que me sufoca, essas contas que me sufocam, essas calças, esses olhos, esses sorrisos, essas cobranças, essa porta dos fundos que não abre...

...Escolhas, escolhas, reprovações, reprovações, escolhas.

Dê-me essa chave da porta dos fundos, quero sair por trás, quero viver por trás das montanhas do sucesso, quero ser um pastor de ovelhas sem lã; quero ser um pescador num oceanos sem peixes; quero que essa porta se abra e me deixe sair de cabeça baixa pela vida.

Se arrependimentos matassem, eu seria um mártir, mas eles apenas ferem, eles apensas dilaceram meu tecido adiposo e, por isso, não consigo mais sentir calor.

As ruas por onde não andei;
As casas que temi entrar;
As prisões;
Os muros que nem tentei transpassar;
Pelos fundos da casa posso ser mais feliz. Posso ser feliz.

Agora que tenho as chaves, que abri a porta, não sei se quero sair - me acostumei no cárcere - me acostumei a viver na parte rasa do lago. 

Depois de todos esses anos, o que aprendi foi que poemas entristecem mais do que acalmam a alma, que apertos de mãos podem nos passar mais germes que solidariedade e que fotos de família são felizes quando estão seguras em álbuns empoeirados, dessa forma, ninguém se machuca. E os sorrisos, mesmo os forçados, não são maculados.

Marcos Martins.

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