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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Desnudo



Desnudo
(Marcos Henrique Martins)

Vem à calmaria, me sinto bem, mas antes passou a tempestade que me tirou toda a inocência. Um poeta disse certa vez que perdera a inocência no dia em que soube que iria morrer um dia. Perdi a minha antes de ter 32 dentes. 

Veio à calmaria, mas não me senti bem com ela, me acostumei ao caos, me acostumei aos urros das grandes cidades, das mazelas, dos homens sem rotos que caminham - sem rumo -, que pedem esmolas e lhes são negada. Como todo o mais em suas vidas, pois Deus, Deus não os enxergar, talvez se tivessem lepra, quem sabe. 

Pensei que a calmaria fosse me trazer paz, mas me trouxe dor, desassossego, medo e pensamentos conflitantes.

Sempre que acordo tenho que ouvir uma foz me suplicando para levantar, tomar minha cruz e seguir no deserto das possibilidades, que para mim se apresentou como um mar do impossível. Se ao menos soubesse caminhar sobre as águas.

Chegou à calmaria e ficou sem graça por me ver desolado no canto de uma parede cheia de mofo. Não sei o que fazer nessa calmaria, foram muitos anos sendo disciplinado no caos.

Tiro minhas vestes, fico nu, porém não é o suficiente, então tiro a pele que me habita, fico com os músculos expostos. Ainda assim não me sinto nu por inteiro. Me dispo de meus músculos; de meus órgãos, vísceras, veias, fico apenas com meus ossos e meu coração, pois ele, ainda me deixa ser demasiadamente humano.

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