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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Matou a família e foi ler o jornal do dia - PARTE I




Matou a família e foi ler o jornal do dia

(Marcos Henrique)



Mais um domingo nascia. O ponteiro pequeno estava em cima do número cinco e o grande, em cima do número oito. Ele já estava pronto, pronto e ansioso. Tomou seu café com leite, comeu torradas integrais, uma fatia de queijo coalho e para completar, uma banda de mamão havaiano. Saciado, foi ao banheiro, escovou os dentes, sentia orgulho por ter 62 anos e todos os dentes. Foi para o terraço, observou com seus óculos multifocais o jornal de sábado, ali, parado, sem vida, pensou: Quando me tornarei sem serventia?

Esticou-se na cadeira e pôde olhar para dentro da sala, o ponteiro pequeno estava agora quase no número seis, o ponteiro grande no número cinquenta e cinco. Esfregou as mãos, voltou a olhar para o jornal da edição passada e pensou: O que ele vai me mostrar neste domingo? Começou a olhar para os dedos das mãos, brincou com as unhas que estavam um pouco grandes. Estava na hora de podar seus dedos.

- Vai dar tempo?

Levantou de uma só vez, foi até seu quarto, abriu o guarda-roupa, procurou, procurou, procurou, não encontrou o que queria, olhou para a esposa que ressonava, não quis acordá-la.

- Onde essa velha coloca a tesoura? – pensou.

Foi até a porta do quarto, esticou-se e olhou o relógio na parede que marcava seis horas em ponto. Não havia tempo para sua vaidade. Correu até o terraço, olhou pela grade que, protegia seu mundo. Nada no quintal. Chamou a empregada e perguntou se ela havia pegado o objeto de seu desejo. Ouviu um sonorico – Não –.

- O que está acontecendo com o mundo? - se perguntou.

Lembrou que seu nome era um dos mais comuns, olhou para o jornal de sábado e lembrou que descobriu isso ao folhear o finado.

- O que está acontecendo com o mundo? – falou em voz alta.

Sentou-se na cadeira do terraço, olhos fixo no portão, ouvidos atentos, não ouvia os latidos dos cachorros da vizinhança.

- O que está acontecendo com o mundo? – se questionava, enquanto esfrega as mãos e sentia as unhas grandes rosando em suas palmas. Pensou em voltar ao quarto e continuar com sua busca pela tesoura, mas não queria sair dali, não queria perder aquele momento tão esperado.

Continua...

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