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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Mais um de meus contos


 

A VERDADE ESTÁ NOS VERMES


Acordou as duas da madrugada e viu os vermes a lhe degustar. Não sabia onde estava, nem como sair dali. Não sentia dor, apenas desconforto e vergonha por estar sendo devorado vivo. 

Seu ventre aberto não exalava odor. Tentou fechá-lo – não teve êxito. Tentou levantar-se – faltaram-lhe pernas.

Pensou, pensou e pensou (nada em sua mente). Coçou a cabeça, sentiu o oco. Olhou para a mão encoberta por uma mucosa – sentiu enjoo. 

Refletiu: 

“Como posso não ter mais meu cérebro? Como posso pensar isso sem ter um cérebro?”

Sentiu sede, percebeu que não tinha mais língua. Quis chorar, seus olhos lhe abandonaram.

Depois de algum tempo viu que não poderia sair de sua escuridão, então, acomodou a cabaça nas trevas e começou a se sentir mais confortável com todos os vermes que lhe consumiam o corpo. 

Pensou:

“Como será que está o dia lá fora? Será que tem crianças correndo, flores desabrochando e pessoas sentindo minha falta?”

Passou a mão na cabeça novamente – sentiu alguns fios de cabelos – e ficou feliz por não ter mais seu cérebro, dessa forma, sabia que não pensaria mais em problemas fúteis. 

Marcos Martins.

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